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Tecendo a vida

domingo, 14 de novembro de 2010

Joana Imaginária

Boneca da artista Isabel Mendes da Cunha (1924-   ),
Vale do Jequitinhonha.
Disponível em www.ceramicanorio.com


Nos livros de História, a saga de Antônio Conselheiro, nosso beato que profetizou que o sertão viraria mar é narrada do ponto de vista masculino : as guerras com os soldados da República, a valentia dos jagunços do Arraial de Belo Monte... Ministrando uma aula de História para o ensino fundamental, li no livro didático o nome da segunda mulher do Conselheiro - Joana Imaginária.

Minha imaginação voou ao tentar imaginar Joana, a mulher de nome poético. Quem seria a portadora de  tal nome que dá base à poesia e à profecia ? O que imaginou Joana ? Que imagens produziu ?

Joana era santeira, modelava figuras sagradas do barro; seu ofício a ligava mais à Mãe Terra que ao Deus Pai. Do corpo da Mãe, Joana tirava material para as imagens ditadas pelas regras dos representantes do Pai.
Imaginária Joana... Mater Joana cujo trabalho com a matéria, amassando e modelando, como quem faz o pão, produzia assentamentos católicos para o axé do espírito. Considerada a conselheira da região, Joana tem um filho com Antônio, _ aquele que passou á História como o Conselheiro. No momento em que o Conselheiro parte em busca da sua utopia, Joana Imaginária não o segue; permanece com o filho. Essa decisão, concreta como o barro com o qual Joana imagina e modela as imagens sagradas, cotidiana como a terra, acaba por permitir a vida sua e de seu filho.
Joana Imaginária, a que não foi mártir. Joana Imaginária, a que foi artista.

Aqui, alguns links para imaginar Joana.
 



Cordel Do Fogo Encantado - Profecia (ou Testamento Da Ira)
Salve o povo Xucuru 

Na cumeeira da serra Ororubá o velho profeta já dizia 
Uma nova era se abre com duas vibras trançadas 
Seca e sangue 
Seca e sangue

Herdeiros do novo milênio 
Ninguém tem mais dúvidas 
O sertão via virar mar 
E o mar sim 
Depois de encharcar as mais estreitas veredas 
Virará sertão 

Antôe tinha razão rebanho da fé 

A terra de todos a terra é de ninguém 
Pisarão na terra dele todos os seus 
E os documentos dos homens incrédulos 
Não resistirão a Sua ira 

Filhos do caldeirão 
Herdeiros do fim do mundo 
Queimai vossa história tão mal contada 

Ah! Joana Imaginária 
Permita que o Conselheiro 
Encoste sua cabeleira 
No teu colo de oratórios 
Tua saia de rosários 
Teu beijo de cera quente 
 
 E assim na derradeira lua branca 
Quando todos os rios virarem leite 
E as barrancas cuscuz de milho 
E as estrelas tocadeiras de viola 
Caírem uma por uma 
Os soldados do rei D. Sebastião 
Mostrarão o caminho
 

2 comentários:

www.amsk.org.br disse...

Como gosto desses versos.
Em tempo, desejamos uma entrada de ano/2011 maravilhosa e mais cartas de Tarô.

um abraço das suas seguidoras,

Cozinha dos Vurdóns,
Homeopatas dos Pés Descalços

José Mendes Pereira disse...

Excelente blog

http://blogdomendesemendes.blogspot.com