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Boneca da artista Isabel Mendes da Cunha (1924- ),
Vale do Jequitinhonha.
Disponível em www.ceramicanorio.com |
Nos livros de História, a saga de Antônio Conselheiro, nosso beato que profetizou que o sertão viraria mar é narrada do ponto de vista masculino : as guerras com os soldados da República, a valentia dos jagunços do Arraial de Belo Monte... Ministrando uma aula de História para o ensino fundamental, li no livro didático o nome da segunda mulher do Conselheiro - Joana Imaginária.
Minha imaginação voou ao tentar imaginar Joana, a mulher de nome poético. Quem seria a portadora de tal nome que dá base à poesia e à profecia ? O que imaginou Joana ? Que imagens produziu ?
Joana era santeira, modelava figuras sagradas do barro; seu ofício a ligava mais à Mãe Terra que ao Deus Pai. Do corpo da Mãe, Joana tirava material para as imagens ditadas pelas regras dos representantes do Pai.
Imaginária Joana... Mater Joana cujo trabalho com a matéria, amassando e modelando, como quem faz o pão, produzia assentamentos católicos para o axé do espírito. Considerada a conselheira da região, Joana tem um filho com Antônio, _ aquele que passou á História como o Conselheiro. No momento em que o Conselheiro parte em busca da sua utopia, Joana Imaginária não o segue; permanece com o filho. Essa decisão, concreta como o barro com o qual Joana imagina e modela as imagens sagradas, cotidiana como a terra, acaba por permitir a vida sua e de seu filho.
Joana Imaginária, a que não foi mártir. Joana Imaginária, a que foi artista.
Aqui, alguns links para imaginar Joana.
Cordel Do Fogo Encantado - Profecia (ou Testamento Da Ira)
Salve o povo Xucuru
Na cumeeira da serra Ororubá o velho profeta já dizia
Uma nova era se abre com duas vibras trançadas
Seca e sangue
Seca e sangue
Herdeiros do novo milênio
Ninguém tem mais dúvidas
O sertão via virar mar
E o mar sim
Depois de encharcar as mais estreitas veredas
Virará sertão
Antôe tinha razão rebanho da fé
A terra de todos a terra é de ninguém
Pisarão na terra dele todos os seus
E os documentos dos homens incrédulos
Não resistirão a Sua ira
Filhos do caldeirão
Herdeiros do fim do mundo
Queimai vossa história tão mal contada
Ah! Joana Imaginária
Permita que o Conselheiro
Encoste sua cabeleira
No teu colo de oratórios
Tua saia de rosários
Teu beijo de cera quente
E assim na derradeira lua branca
Quando todos os rios virarem leite
E as barrancas cuscuz de milho
E as estrelas tocadeiras de viola
Caírem uma por uma
Os soldados do rei D. Sebastião
Mostrarão o caminho